segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A hora e vez de Augusto Matraga

"Sorte nasce a cada manhã, e já está velha ao meio-dia..."

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"E tinha uma força grande, de amor calado, e uma paciência quente, cantada, para chamar pelo seu nome: ...Dionóra..."

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"E Nhô Augusto fechou os olhos, de gastura, porque ele sabia que capiau de testa peluda, com o cabelo quase nos olhos, é uma raça de homem capaz de guardar o passado em casa, em lugar fresco perto do pote, e ir buscar da rua outras raivas pequenas, tudo para ajuntar à massa-mãe do ódio grande, até chegar o dia de tirar vingança."

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"Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua."

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"Esteve resignado, e fazia compridos progressos na senda da conversão."

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"- Eu vou p’ra o céu, e vou mesmo, por bem ou por mal!... E a minha vez há de chegar... P’ra o céu eu vou, nem que seja no porrete!..."

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"Mas fugia às léguas de viola ou de sanfona, ou de qualquer outra qualidade de música que escuma tristezas no coração."

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"E tudo foi bem assim, porque tinha de ser, já que assim foi."

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"O bando desfilou em formação espaçada, o chefe no meio. E o chefe – o mais forte e o mais alto de todos, com um lenço azul enrolado no chapéu de couro, com dentes brancos limados em acume, de olhar dominador e tosse rosnada, mas sorriso bonito e mansinho de moça – era o homem mais afamado dos dois sertões do rio: célebre do Jequitinhonha à Serra das Araras, da beira do Jequitaí à barra do Verde Grande, do Rio Gavião até nos Montes Claros, de Carinhanha até Paracatu; maior do que Antônio Dó ou Indalécio; o arranca-toco, o treme-terra, o come-brasa, o pega-à-unha, o fecha-treta, o tira-prosa, o parte-ferro, o rompe-racha, o rompe-e-arrasa: Seu Joãozinho Bem-Bem."

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"Mocorongo eu não aceito comigo! Homem que atira de trás do toco não me serve..."

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"...bicipitalidade maciça..."

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"Eh, mundo velho de bambaruê e de bambaruá!..."

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"E só então foi que ele soube de que jeito estava pegado a sua penitência, e entendeu que essa história de se navegar com religião, e de querer tirar sua alma da boca do demônio, era a mesma coisa que entrar num brejão, que, para a frente, para trás e para os lados, é sempre dificultoso e atola sempre mais."

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"...guinchos timpânicos..."

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"Cantar, só, não fazia mal, não era pecado. As estradas cantavam. E ele achava muitas coisas bonitas, e tudo era mesmo bonito, como são todas as coisas, nos caminhos do sertão."

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"- Que-o-quê! Essa mania de rezar é que está lhe perdendo... O senhor não é padre nem frade, p’ra isso; é algum?... Cantoria de igreja, dando em cabeça fraca, desgoverna qualquer valente... Bobajada!..."

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(João Guimarães Rosa - A hora e vez de Augusto Matraga)

sábado, 28 de outubro de 2017

Love is Pleasing (e medieval)

Música difícil de rastrear.
Aparentemente, uma canção folclórica que foi sendo interpretada ao longo do tempo com várias diferenças no arranjo, na letra, e até mesmo no nome.

As duas versões do Davy Graham me agradam muito, como tudo o que ele fez musicalmente.

Mas, no geral, todas as versões mantêm esse clima quase medieval, que é algo que tem tudo a ver com o amor. Penso, inclusive, ser esse o adjetivo perfeito pra esse sentimento.

O amor é medieval.

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Música: Love is Pleasing
Versão: Davy Graham
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Aqui a versão do disco solo, que busquei seguir:
(Capa magnífica!)
Love is Pleasing - Davy Graham
Disco: Hat (1969)

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Aqui a versão do disco que ele fez com a Shirley Colins, onde fica mais fácil perceber o arranjo do violão:
Love is Pleasin' - Shirley Collins e Davy Graham
Disco: Folk roots, new routes (1964)

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E aqui era pra ser o já quase tradicional bônus-dos-guerreiros, mas "bônus" é uma palavra que definitivamente não faz justiça a essa versão.

Isso porque é a maravilhosa Jean Ritchie fazendo o amor cambalear agudo e doído pelas cordas do seu Saltério dos Apalaches, direto de uma montanha esquecida qualquer lá do Kentucky:
(Bela letra também.)

 O Love Is Teasin' - Jean Ritchie
Disco: Traditional Songs of Her Kentucky Mountain Family (1952)

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"When you think he's near he is far away"

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Música Salva! (29) - Quem não se Tchaikovsky se Shostakovich!

Como lindamente já nos ensinou o mestre maior, Tom Zé, lááááá atrás, naquela música rara e belíssima daquele compacto raro e belíssimo de 1973:

"Quem não pode se Tchaikovsky!"

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Mas mestre, e se nem pode e nem se Tchaikovsky? Como é que faz?
 - Aí se Shostakovich, bicho, se vira!

Valsa nº 2, Jazz Suite (trecho inicial)
Dmitri Shostakovich

Se a escaleta fosse um piano, a gente ia até o fim, mas faltou tecla.
Deu só pra abertura, e olhe lá...

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A música rara e bela é essa aqui:

Tom Zé - Quem não pode se Tchaikovsky
Compacto 1973, lado B.

É pra se ouvir um milhão de vezes antes de morrer.
E nem precisava de letra, podia ser só grunhida, mas tem de brinde essa jóia:

"Quem não pode se Tchaikovsky!
Meeeeeeeu amooooooor
Meeeeeeeu amooooooor
Meeeeeeeu amooooooor
Livra a cara qué vem baião!
Ora me deixe
Deixe de tolice
De refinesse grã-finice
Eu vou jogar areia
Nesse molejo da sinfônica
Quebrar o dente
De ouro da boca do palacete
Do palacete
Por gentileza deixe de fineza
De siquinique xiquitrique
Que eu não vou trocar
O pandeiro do Jackson
Pelo Tchaikovsky não
Nem pela coroa do Rei do Baião
Que dirá pela sanfona do Rei do Baião
Meeeeeeeu amooooooor
Meeeeeeeu amooooooor
Meeeeeeeu amooooooor
Tua mania de grandeza
Me dá tanta dor
Tô te avisando"

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É inspirada nessa outra beleza aqui:
Tchaikovsky - Violin Concerto in D major, Op. 35

Pra ouvir com mais tempo e calma, claro, mas garanto que vale a pena.

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Ah, e o Shostakovich? Onde é que entra?
Bom, o Dmitri entrou de gaiato mesmo, só pra rimar em russo, que é pra dar um efeito mais Maiakovski no esquema. Mas isso, porque é música e poesia. Fosse prosa, aí a gente se Dostoievskava.
Mas isso é assunto pra um outro dia...

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A bela - e também rara até 1999, quando redescoberta - valsa do Jimmitri Renda-se, se bem executada, soa assim:

Dmitri Shostakovich -  Jazz Suite, Valsa nº 2

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Não gostou não?!
Ah, mas então, ora me deixe, deixe de tolice, de refinesse, grã-finicedeixe de fineza, de siquinique xiquitrique... tô te avisando.

É valsa pra ouvidos abertos e Olhos Bem Fechados.
Vem dançar, vem?!

domingo, 8 de outubro de 2017

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Lara

Amarelo ouro.
Ouro puro.

Lara, era desse sorriso aí que eu tava falando!
Lembro que eu tive que insistir um pouquinho naquele dia, mas ele acabou saindo.
Eu sou chato mesmo, você sabe, mas é que esse sorriso combina muito com essa sua juba linda.
E eu nunca nem tinha te mostrado essas fotos, né?!
Pois é, roubei o sorriso pra mim por cinco anos.
Agora é de todo mundo.

Te vejo em breve, querida.

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E, se puder, reserve uma vaga na lista pra mim, moça, porque eu só vou chegar no último vagão:

Los Hermanos - Além do que se vê
Álbum: Ventura (2003)

"Moça,
olha só o que eu te escrevi:
'É preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê.'"

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"Seeeeei que o vento que entortou a flor passou também por nosso lar e foi você quem desviou com golpes de pincel."

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"Deixa eu ver a moça."

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"Ééééé booooom teeeee veeeeeeer sooorriiiiiiir."

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"Deixa vir a moça,
que eu também vou atrás
e a banda diz: 
'- Assim é que se faz!'"