"É que na época da ditadura todo mundo era mais feliz, a gente não via tanta corrupção, não via tanta violência nas ruas, não via tanto artista pelado sustentado pela Lei Rouanet , não via tanto Golden Shower, não via tanto..."
É dessas pérolas que entram em ângulo obtusocomo uma moto serra a gasolina no ouvido da gente e arregaçam com o que sobrou do nosso já tão maltratado tímpano.
Esses aforismos inspirados da geração leal de Escoteiros do Esquadrão Nutella.
Medalhinhas de bom moço e da catequese no peito, eles seguem sem vergonha alguma de ostentar essa pureza de sangrar os olhos, recheadinha de "primitivismo e mediocridade."
Pois é, "ninguém segura a juventude do Brasil".
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"Menina, a felicidade
é chave na grade,
é chave na cerca,
é chave na porta,
é chave na sorte."
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"Essa canção eu fiz com o Perna, e ela foi personagem de uma história interessante. Quando ia lançar meu disco nos Estados Unidos, David Byrne me pediu para pôr a data das canções, ao enviar as letras para a compilação de gravações minhas com as quais ele produziu The best of Tom Zé, em 1990. Então a canção seguiu para os Estados Unidos com essa data – Menina, amanhã de manhã, 1972.
Aí, no jornal de uma cidade americana do interior, um jornalista observou: “A felicidade vai desabar sobre os homens? 1972? Essa deve ser uma maneira de Tom Zé se referir sutilmente à ditadura, que, fazendo propaganda de si mesma, devia alardear no Brasil que o povo era feliz, que a ditadura era a felicidade do povo. Então Tom Zé achou esse verso preciso: a felicidade vai desabar sobre os homens!”
Fiquei surpreso: os caras percorreram o caminho que eu tinha percorrido. Impressionante! Que pesquisa crítica! "
(palavras de Tom Zé, extraídas do BookSong idealizado e produzido por Emerson Leal.)