sábado, 23 de novembro de 2024

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

no ar (yee ha)



"Num dia chuvoso de compras no mercado,
Sou cercado por uma multidão crescente
que acredita que eu posso voar.

Ao que parece cometeram um erro terrível:
o jornal do bairro publicou um artigo sobre um
homem que realmente tem esse talento invejável
mas botaram a minha fotografia em cima do artigo.

Não tenho certeza de como o jornal
conseguiu uma foto minha,
Mas esse é o menor dos meus problemas,
Diante,
Como estou,
Dessa barulhenta multidão de estranhos.

Protesto, mas a multidão não dará trégua até
que eu mostre meus incríveis poderes.

Por fim,
Cedo a eles,
e fico,
batendo meus braços e pulando o mais
alto que posso para o ar úmido.

Isso continua por algum tempo,
E fico com medo, cada vez mais, de que a
multidão, agora desapontada, vá me atacar,
achando que sou um charlatão presunçoso.

Mas, finalmente, eles abrem espaço,
resmungando.

Agradecendo à minha estrela-guia,
eu corro para casa,
muito abalado para continuar as compras.

Naquela noite,
sozinho,
eu tento voar outra vez.

É um exercício fútil, está provado,
mas viciante.

Noite após noite, fico de pé no telhado,
batendo os braços e dando pequenos
saltos sobre as telhas.

Por mais que eu tente,
nunca consigo decolar."


Nação tomada pelo medo
(Thom Yorke & Stanley Donwood)

***

Sabe o que o Thom Yorke disse pra inteligência artificial?

"- Not ok, computer."

sábado, 16 de novembro de 2024

século desapaixonado e indeciso




 “No último quartel do século XX, numa época em que a civilização ocidental decaía inconfortavelmente rápido demais, porém de forma muito lenta para ser excitante, o mundo em grande parte sentava-se numa poltrona de teatro cada vez mais cara, esperando – em variadas combinações de medo, esperança e tédio – algo importante acontecer.

Alguma coisa séria não demoraria a ocorrer. O inconsciente coletivo inteiro não poderia estar errado quanto a isto. Mas o que seria? E seria apocalíptico ou rejuvenescedor? A cura do câncer ou uma explosão nuclear? Uma alteração atmosférica ou uma mudança do mar? Terremotos na Califórnia, abelhas assassinas em Londres, árabes na Bolsa de Valores, a vida sendo gerada em laboratório, ou um OVNI nos jardins da Casa Branca? Monalisa deixaria crescer um bigode? O valor do dólar cairia?”

[...]

“...é preciso concordar que os últimos 25 anos no século XX foram um período duro para os amantes. Foi uma época em que as mulheres estavam magoadas com os homens, em que eles sentiam-se traídos pelas mulheres, uma época em que os relacionamentos românticos assumiriam o caráter da neve quando cai na primavera, abandonando muitas criancinhas em banquisas inóspitas e pontiagudas.

Ninguém sabia o que fazer com a lua.

[...]

“Imagine acordar e descobrir a lua caída de cara no chão do banheiro, como o finado Elvis Presley, envenenada com banana split.

[...]

“- A lua terá alguma finalidade? – ela perguntou ao Príncipe Encantado.

O príncipe Encantado fez de conta que era uma pergunta boba. Talvez fosse. A mesma questão apresentada à Remington SL3 extraiu esta resposta:

Albert Camus escreveu que a única dúvida séria é se você deve suicidar-se ou não.

Tom Robbins escreveu que a única dúvida séria é se o tempo tem um início e um fim.

Camus evidentemente levantou-se de mau humor e Robbins deve ter esquecido de dar corda no despertador.

Existe apenas uma dúvida séria. E é:

Quem sabe como conservar um amor?

Responda-me isto e lhe direi se você deve ou não se matar.

Responda-me isto e o tranquilizarei quanto ao início e o fim do tempo.

Responda-me isto e lhe revelarei para que serve a lua.”

[...]

“Quem sabe como evitar que o seu amor vá embora?

1. Diga-lhe que vai até a lojinha de doces na Flatbush Avenue, no Brooklin, pegar um cheesecake e que se ele ficar poderá comer a metade. Ficará.

2. Diga ao seu amor que você quer uma lembrança dele e consiga um anel de seus cabelos. Queime-o num incensário. Desses que se vende em lojas de artigos baratos com símbolos ying/yang dos três lados. Vire para o sudeste. Fale rápido por sobre o cabelo queimando, numa língua convincentemente exótica. Remova as cinzas e com elas pinte um bigode no seu rosto. Procure seu amor. Diga que você é uma outra pessoa. Ele ficará.

3. Acorde o seu amor no meio da noite. Diga que o mundo está pegando fogo. Corra para a janela do quarto e dê uma espiada. Como se não fosse nada, volte para a cama e garanta ao seu amor que está tudo bem. Adormeça. De manhã, seu amor estará lá.”

***

Still life with woodpecker
Tom Robbins
(
1980)

***

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Lundy, Fastnet, Irish Sea...

(no limbo)


 Nada

"Ninguém gosta de nada
Gostaria do fundo do meu coração que não existisse

Mas apenas querer não basta
Vivemos no mundo real, onde nada existe
Não podemos simplesmente desinventá-lo

Nada é incompreensível
Nem você nem eu temos qualquer esperança
de apenas entender o que é e o que faz

É difícil saber se nada é realmente nada
E, portanto, difícil saber se uma política
de fazer nada é bem sucedida

Nada
Por mais eficaz que tenha sido até agora
Dificilmente pode continuar a sê-lo
por tempo indeterminado

Se eu tivesse de escolher
Entre a contínua possibilidade de nada acontecer
E de nada fazer
Eu sem dúvida escolheria o último

Ou o anterior"


***


In Limbo - Radiohead
Álbum: Kid A (2000)


***

"Lundy, Fastnet, Irish Sea
I got a message I can't read
Another message I can't read"

[...]

"You're living in a fantasy world"

"I'm lost at sea
Don't bother me"

***

ah, nem...
e isso foi em outubro de 2000.
anteontem.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024