Eleotero
O
Eleotero foi um dos doze deuses olímpicos. Bem, era pra ter sido.
Ele era o deus da limpeza dos peixes e tinha o poder mítico do avental. Quando o prato do dia era peixe – o que acontecia com certa frequência – o Eleotero ia pra cantina do Olimpo e ficava lá o dia todo, encarregado de abrir e limpar os bichinhos. Mas, embora fosse excelente ao desempenhar essa função, mantendo seu avental sempre impecável, o Eleotero não gostava muito de limpar peixe não. Ele preferia gastar seu tempo nos inferninhos 24 horas que existiam no sopé do monte.
A verdade
é que ele se sentia muito mal em relação ao seu “dom”. Tinha vergonha. Pra ser
bem preciso, o Eleotero se sentia um deusinho de merda. Queria ser bacana, tipo
o Hefesto, deus do fogo e da metalurgia ou tipo o Poseidon, deus dos mares e
das tempestades. Enfim, uma coisa legal, que chamasse a atenção das mulheres.
Então,
com o tempo, desmotivado com seus poderes e com as condições de trabalho, o
Eleotero começou a passar cada vez mais tempo nos inferninhos e se esqueceu de
suas obrigações. Os deuses ficaram irritadinhos porque estavam comendo apenas
vegetais no almoço e na janta, sete dias por semana.
- Cadê o
Eleotero? – bradou o Zeus, um dia, muito bravo, batendo com o garfo na mesa e
cuspindo um pedaço de nabo mal mastigado pelo canto da boca.
- Está
nos inferninhos com o Hades. Agora ele só vive por lá, querido. – disse a Hera,
do auto de sua dignidade conjugal, enquanto limpava com um guardanapo a barba
do marido e também irmão – pois é, entre eles, os deuses são bem
liberais.
Então o Zeus ficou puto e reuniu, à surdina, os outros deuses pra eles declararem a vacância da cadeira do Eleotero no panteão. Na reunião, eles decretaram abandono de emprego com base nas leis do MMTPPG – Ministério Mítico do Trabalho e dos Poderes do Panteão Grego.
Então o Zeus ficou puto e reuniu, à surdina, os outros deuses pra eles declararem a vacância da cadeira do Eleotero no panteão. Na reunião, eles decretaram abandono de emprego com base nas leis do MMTPPG – Ministério Mítico do Trabalho e dos Poderes do Panteão Grego.
Na manhã
seguinte, o Eleotero voltou pro Olimpo, levemente alterado, e foi recebido,
ainda no portão, pelo Apolo e pelo Zeus, que disseram que ele não fazia mais
parte daquele “seleto clã”.
O
Eleotero disse assim:
- Vocês não podem fazer isso comigo, seus canalhas! Eu tenho o poder do avental, estão me ouvindo?! Eu não sou qualquer um! Eu sou um exímio limpador de peixes!
Mas o Zeus e o Apolo estavam irredutíveis.
- Saia
daqui, seu ébrio habitual! – disse o Zeus, atirando com fúria um cesto de nabos
recém-colhidos na direção do Eleotero.
Mas o
Eleotero conseguiu escapar da pancada cambaleando bebadamente e isso deixou o
Zeus ainda mais puto. Ele fez um sinal pro seu queridinho, o Apolo, que segurou
os braços do Eleotero para trás, pro Zeus poder dar uns murros na barriga dele.
Mas acontece que, durante a noite, o Eleotero tinha bebido quase um litro de vodca, meia garrafa de uísque - sem gelo, puro malte -, além de nove shotzinhos de tequila, e foi obrigado a vomitar pra todo lado. No entanto, não se sujou, porque estava usando o seu avental divino. Já o Zeus e o Apolo, bem, eles se deram muito mal.
Mas acontece que, durante a noite, o Eleotero tinha bebido quase um litro de vodca, meia garrafa de uísque - sem gelo, puro malte -, além de nove shotzinhos de tequila, e foi obrigado a vomitar pra todo lado. No entanto, não se sujou, porque estava usando o seu avental divino. Já o Zeus e o Apolo, bem, eles se deram muito mal.
Aí o
Zeus, como punição – porque ele era cheio de fazer essas maldades com as
pessoas que cometiam erros – arrancou o nariz do Eleotero e pregou no lugar uma
cauda de peixe, para que, eternamente – os deuses gostam muito
dessa palavra -, ele sentisse o cheiro cru do animal e se lembrasse do quão
temerário tinha sido quanto às suas obrigações laborais.
Nesse
momento o Eleotero percebeu que não adiantava recorrer da decisão e disse
apenas aquela frase complexa e bem elaborada que muitos utilizam quando perdem
algo importante por agir de forma displicente:
“- Ah, eu
nem queria mesmo...”
Deu de
ombros e foi embora.
Fim.
***
Nota do Ficcionista: O Eleotero jamais foi visto novamente e os outros deuses riscaram o nome dele de todos os anais e alfarrábios referentes ao panteão grego. E é por isso que nunca o vemos incluído em nenhuma lista desse tipo. Mais tarde, alguns estudiosos do assunto atribuíram também ao deus Eleotero a divindade dos navios naufragados, da demissão por justa causa, dos peixes bluegill, e da rinoplastia. Há também uma corrente – minoritária, registre-se – que afirma que ele é também o deus da sardinha em lata (mas apenas daquele tipo que já vem temperado com limão). Outros relatos, colhidos ao longo de eras, apontam para o fato de que, após ser expulso do Olimpo, o Eleotero atravessou o Mar Egeu e o Mar Mediterrâneo em uma modesta jangadinha e acabou se tornando um respeitável sushiman em uma província do litoral israelense. Mas esse assunto é controverso ainda hoje, alguns anos depois.
Nota do Ficcionista: O Eleotero jamais foi visto novamente e os outros deuses riscaram o nome dele de todos os anais e alfarrábios referentes ao panteão grego. E é por isso que nunca o vemos incluído em nenhuma lista desse tipo. Mais tarde, alguns estudiosos do assunto atribuíram também ao deus Eleotero a divindade dos navios naufragados, da demissão por justa causa, dos peixes bluegill, e da rinoplastia. Há também uma corrente – minoritária, registre-se – que afirma que ele é também o deus da sardinha em lata (mas apenas daquele tipo que já vem temperado com limão). Outros relatos, colhidos ao longo de eras, apontam para o fato de que, após ser expulso do Olimpo, o Eleotero atravessou o Mar Egeu e o Mar Mediterrâneo em uma modesta jangadinha e acabou se tornando um respeitável sushiman em uma província do litoral israelense. Mas esse assunto é controverso ainda hoje, alguns anos depois.
E se você leu esse texto até o fim: mil desculpas.
“Até
mais, e obrigado pelos peixes!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente aqui!