domingo, 27 de outubro de 2024

outubro em Rosshalde

 

“...e agora sentia que estava diante de um bom trabalho, incomum, em que não se tratava de apreender as coisas e retratá-las de forma louvável, mas no qual um instante fora do fluxo indiferente e misterioso da natureza irrompera através da superfície vítrea e o fazia sentir o sopro selvagem e gigante da realidade.”

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“O todo era frio e quase cruelmente triste, mas também plácido e incontestável, e sem nenhum outro simbolismo além do mais simples, sem o qual nenhuma obra de arte pode existir, e que nos permite não só perceber a opressiva incompreensibilidade de toda a natureza, mas amá-la com uma espécie de doce deslumbramento.”

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“Havia tempos tinha aprendido que não se pode entender nem explicar as coisas mais belas e interessantes.”

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“Era sobretudo a distância e o silêncio de um mundo em que seus sofrimentos, tristezas, lutas e privações se tornariam alheios, distantes e pálidos, em que sua alma se livraria de uma centena de pequenos fardos diários e ele seria acolhido por uma nova atmosfera, ainda pura, livre da culpa e da dor.”

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“...o aroma melífluo da fruta madura e nutritiva.”

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“Tinha cheiro de terra úmida e da chegada do outono, e ele, que costumava perceber com os sentidos mais aguçados as características das estações do ano, notou com assombro como esse verão lhe havia escapado quase sem deixar rastro, quase imperceptível.”

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“Respirou fundo o ar úmido e amargo do parque, e a cada passo parecia-lhe que estava se afastando do passado como alguém que já alcançou a margem e empurra um barquinho que se tornou inútil. Não havia nenhuma resignação em sua análise e percepção; cheio de obstinação e paixão intrépida, ele esperava ansioso pela nova vida, que não poderia mais ser um tatear e um errar pela penumbra, mas sim um caminho íngreme e ousado para o alto. Mais tarde e talvez com mais amargura do que os homens costumam ter, ele havia se despedido do doce crepúsculo da juventude. Lá estava ele agora, em plena luz do dia, miserável e atrasado; a partir daquele instante, nunca mais pretendia perder um momento precioso.”

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