sábado, 25 de janeiro de 2025

Convenção do Reino Vegetal

 

A equipe de jornalismo chegou atrasada para a Convenção do Reino Vegetal.
No pátio externo onde acontecia a recepção dos participantes, a fila já estava consideravelmente longa.

O fotógrafo levantou a câmera acima da própria cabeça, com os braços esticados o máximo que pôde, mas na imagem não foi possível distinguir a mesa de credenciamento a frente das tantas pontas reluzentes que compunham a miríade de coroas amontoadas sobre cabecinhas carecas indiscerníveis.


Constatou-se que os reis são mesmo todos baixinhos, pequeníssimos, mediocremente dotados de estatura, mas, segundo um representante comercial, insatisfeito por ter que trabalhar em um domingo de sol e que não quis ser identificado, há uma indústria artificiosa que compensa essa impressão de pequenez com o truque canhestro de alongar grosseiramente o comprimento das coroas.

" - É simplesmente ridículo", - ele nos disse com um sorriso indignado, "quando se para pra pensar a respeito, qualquer um vê que eles são uns nanicos, mas, inexplicavelmente, os súditos não percebem."

Nossa equipe constatou que, realmente, os súditos não identificam o simplório estratagema e olham de baixo para cima mesmo quando são bem mais altos que a realeza a que se dirigem, em um malabarismo geométrico de ótica paradoxal e dilemática de inversão de classes que faria Maurits Cornelis Escher ou Noam Chomsky ficarem constrangidos.

Observamos que alguns reizicos, não satisfeitos com a coroa exuberante, ainda se valem - sem cerimônia - do recurso do salto alto.

 E enquanto alguns ostentam a majestade no topo do calvo cocoruto, outros conseguem ainda, posicionar a cabeça acima da própria coroa, em um ato desesperado, extravagante e atrapalhado por validação social.


Na próxima edição você conhecerá mais profundamente a azeda opinião dos abacaxis sobre a deepweb dos vegetais orgânicos e a taxação dos supermegalatifúndios:

" - Nós matamos todos os vegetais que viviam aqui antes de nós e construímos quilômetros dessa maldita cerca pontiaguda, essa terra é nossa por direito", esbraveja um dos nossos entrevistados.

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