segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

sábado, 14 de dezembro de 2024

analgias, tiques e pequenas falhas locomotoras


“E a maldição de começar a envelhecer. No meio da noite, no meio do mundo, luz de vagalume lambendo trevas.”

[...]

“...talvez a falta de um braço protetor sobre os ombros ou em torno da cintura, jardins e crepúsculos expõem nossas carências e fragilidades, o corpo produz analgias, tiques, pequenas falhas locomotoras para denunciar sua solidão.”

[...]

“Já inventariei todos os ruídos da casa, todos os silêncios.”

[...]

“Atenção passageiros para o dia, queiram tomar seus lugares. Entrego a cidade, com seus roubos, estupros e assassinatos, aos seus legítimos donos. Sou o guardião da noite, encerro meu turno. Agora posso dormir.”

***

Viver é prejudicial à saúde
Jamil Snege

***

Inventariante de ruídos.
Inventariante de silêncios.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

ânsia burra nº 542

 

“Ler – é só o que tenho feito, essa ânsia burra de buscar a pedra filosofal, a epifania da linguagem, a revelação da escritura, o verbo ardente escandindo a palavra mágica que desvela o mistério. Se não tivesse me fatigado de Deus, poderia pilotar o barco da minha insônia em bem-aventurança até a margem da manhã seguinte. Se não tivesse me fatigado do amor, dos tédios e silêncios que o pontuam, eu poderia embeber meus sentidos no torpor de outro corpo. Se não tivesse me fatigado da ideia de morte, eu me agarraria com fervor à vida que sobrevive ao pequeno morrer de cada dia. A lucidez é o mais cáustico dos venenos. E não há espírito que resista à lenta deterioração do corpo. Um homem de meia-idade, nu e sozinho no bojo da noite, sem uma contrição ou um orgasmo, recusando a introspecção que só conduz a ruínas, é um feto desidratado exposto na mesa de autópsia do mundo. Precisa se agarrar ao útero mais próximo, pegar carona na vida que passa ao lado, fincar seu bico de molusco faminto na plenitude de sua presa. Minha filha é minha presa, Harry é minha presa, alguns amigos sobre os quais lanço meus tentáculos com um misto de afeto e repugnância, sim, sou o torvo, o torpe, o que maneja unhas infectadas, embaralhando palavras e navalhas, escondendo na manga a lâmina enferrujada, o ferrão, a baba pegajosa do pequeno monstro solitário.”

[...]

“Gostaria que alguém me dissesse por que tenho de ser o limítrofe, o quase, o relativamente, o por pouco. Até há algum tempo atribuí minha falta de brilho aos azares da sorte, à cidade, ao país, ao meio, à indolência, ao ser esquivo e esquizo que sou. Hoje percebo nitidamente que me falta é talento, fervor, febre criadora. Aquela centelha a que chamam gênio, capaz de embaralhar as verdades aceitas e propor o novo aos olhos pasmos da realidade. Eis o que me falta: a capacidade de exprimir isso de maneira original, sem o já feito e o já pronto, o vulgar lugar-comum, a inércia da linguagem que transforma o dito numa dublagem do que deveria ser dito. Ah, merda, se eu pudesse rasgar com as unhas a pele das palavras, romper seu invólucro acústico, liberar o feto coaxante que habita em seu bojo, ouvir suas imprecações de cartilagem e muco – um som que fosse a extrusão de membranas malformadas sobrenaturando o mundo...”

***

Viver é prejudicial à saúde
Jamil Snege

***

Rasgando com a unha a pele das palavras:


Mortal Loucura - Caetano Veloso e José Miguel Wisnik

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

existo - não sou


 “A vida é muito estranha. Já gastei a minha cota de mulheres, já amei e desamei, fui amado e desamado, mas de repente um arroubo juvenil brota lá dentro e eu me sinto tolo, núbil e apaixonado. Por nenhuma mulher em particular, mas por qualquer mulher – contanto que me olhe com uns olhos redondos de ternura, me fale com uma voz macia, pergunte se dormi bem, se me alimentei, se senti falta dela. Arroubos. Sou um sujeito totalmente à margem do mercado amoroso ou sexual. Uma carreira profissional estagnada, uma aparência que não é das melhores, o desencanto da idade, a indiferença do mundo. Cultivo hábitos antissociais e saberes inúteis. Sou capaz de discorrer sobre um monte de bobagens, identifico árvores, pássaros, minérios. Cozinho razoavelmente. Consigo discutir durante cinco minutos com especialistas de qualquer área. No minuto seguinte constato que não me especializei em nenhuma delas. Li os clássicos, ouvi os clássicos, cito em mau latim, nada sei de grego. De tanto ouvir sobre viagens internacionais, viajei o mundo todo sem nunca ter ido a parte alguma. E as vezes que fui, acabei não indo: não encontrei o túmulo do herói, o café dos impressionistas, a casa onde morreu Balzac, a nascente do Nilo. Peguei o trem que não devia, o avião antecipado, o hotel do lado oposto, fui ao bar que já havia fechado. A mulher que eu amaria já havia partido, o irmão prometido morreu na guerra da Criméia, o amigo desejado ficou retido em Istambul, um furacão, uma avalanche, uma súbita queda de temperatura, uma mudança do fuso horário, um porre, um mal-estar passageiro, uma diferença de caixa, a falta de um terno novo, o medo de se arriscar, não ouvir um conselho, ouvir um conselho, descartar um par de noves, insistir num casamento, alegar indisposição, simular um orgasmo – e aqui vou eu nesta estrada às três da tarde, como poderia estar numa estrada de Sintra ou do Arizona, eu e minha circunstância imutável: existo – não sou.”

***

Viver é prejudicial à saúde
Jamil Snege

(publicado em 1998 pelo autor e republicado em 2020 pela Arte & Letra)

***

Arroubos.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Música Salva! (49) - We are what we're waiting for

 


Kim Deal - Nobody Loves You More

"Perfect hosts and room ghosts shout
I don't care what they say
They can fight it out
I mean to tell you
Nobody loves you more"

***


Kim Deal - Big Ben Beat

"We stare at the stupid stars
Our love is hard
We are what we're waiting for"

***

Kim Deal
Nobody Loves You More
(2024)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

meu truta, é o seguinte...

 "...disse em uma voz cheia de areia e intenção..."

***

"Falando de evacuações, sua missiva, apesar de completa em outros assuntos, passou por alto nesse. É verdade que você fala em processos de micturição rural, mas muito ligeiramente também. Achei isso uma omissão lamentável da parte de quem, como você, não ignora o meu inesgotável fascínio pela defecação em acampamento. Favor mandar detalhes da próxima vez. Tipo de fossa, posição adotada pelo usuário (agachada ou em pé), número de idas por dia, quantidade de vermes produzida, odor, e número de depósitos por hectares deixados por visitantes anteriores."


Pescar truta na América - Richard Brautigan

***

"A pequena distância do barraco havia uma privada com a porta violentamente aberta. O interior da privada estava exposto como um rosto humano, e a privada parecia dizer, 'O velhote que me fez cagou aqui 9.745 vezes, hoje está morto, e não quero que ninguém mais toque em mim. Ele era um bom sujeito. Ele me construiu com carinho. Me deixe em paz. Agora eu sou um monumento a um bom cu que se foi. Não há mistério aqui. É por isso que a porta está aberta. Se quer cagar, vá no mato, como os veados.'

- Foda-se - eu disse à privada. - Eu só quero uma carona rio abaixo."

***

"...e na parede tinha um rolo de papel higiênico, tão velho que parecia um parente, talvez um primo, da Magna Carta."

***

Esse post tem o patrocínio de HELLmann's:
a verdadeira maionese.

sábado, 23 de novembro de 2024

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

no ar (yee ha)



"Num dia chuvoso de compras no mercado,
Sou cercado por uma multidão crescente
que acredita que eu posso voar.

Ao que parece cometeram um erro terrível:
o jornal do bairro publicou um artigo sobre um
homem que realmente tem esse talento invejável
mas botaram a minha fotografia em cima do artigo.

Não tenho certeza de como o jornal
conseguiu uma foto minha,
Mas esse é o menor dos meus problemas,
Diante,
Como estou,
Dessa barulhenta multidão de estranhos.

Protesto, mas a multidão não dará trégua até
que eu mostre meus incríveis poderes.

Por fim,
Cedo a eles,
e fico,
batendo meus braços e pulando o mais
alto que posso para o ar úmido.

Isso continua por algum tempo,
E fico com medo, cada vez mais, de que a
multidão, agora desapontada, vá me atacar,
achando que sou um charlatão presunçoso.

Mas, finalmente, eles abrem espaço,
resmungando.

Agradecendo à minha estrela-guia,
eu corro para casa,
muito abalado para continuar as compras.

Naquela noite,
sozinho,
eu tento voar outra vez.

É um exercício fútil, está provado,
mas viciante.

Noite após noite, fico de pé no telhado,
batendo os braços e dando pequenos
saltos sobre as telhas.

Por mais que eu tente,
nunca consigo decolar."


Nação tomada pelo medo
(Thom Yorke & Stanley Donwood)

***

Sabe o que o Thom Yorke disse pra inteligência artificial?

"- Not ok, computer."

sábado, 16 de novembro de 2024

século desapaixonado e indeciso




 “No último quartel do século XX, numa época em que a civilização ocidental decaía inconfortavelmente rápido demais, porém de forma muito lenta para ser excitante, o mundo em grande parte sentava-se numa poltrona de teatro cada vez mais cara, esperando – em variadas combinações de medo, esperança e tédio – algo importante acontecer.

Alguma coisa séria não demoraria a ocorrer. O inconsciente coletivo inteiro não poderia estar errado quanto a isto. Mas o que seria? E seria apocalíptico ou rejuvenescedor? A cura do câncer ou uma explosão nuclear? Uma alteração atmosférica ou uma mudança do mar? Terremotos na Califórnia, abelhas assassinas em Londres, árabes na Bolsa de Valores, a vida sendo gerada em laboratório, ou um OVNI nos jardins da Casa Branca? Monalisa deixaria crescer um bigode? O valor do dólar cairia?”

[...]

“...é preciso concordar que os últimos 25 anos no século XX foram um período duro para os amantes. Foi uma época em que as mulheres estavam magoadas com os homens, em que eles sentiam-se traídos pelas mulheres, uma época em que os relacionamentos românticos assumiriam o caráter da neve quando cai na primavera, abandonando muitas criancinhas em banquisas inóspitas e pontiagudas.

Ninguém sabia o que fazer com a lua.

[...]

“Imagine acordar e descobrir a lua caída de cara no chão do banheiro, como o finado Elvis Presley, envenenada com banana split.

[...]

“- A lua terá alguma finalidade? – ela perguntou ao Príncipe Encantado.

O príncipe Encantado fez de conta que era uma pergunta boba. Talvez fosse. A mesma questão apresentada à Remington SL3 extraiu esta resposta:

Albert Camus escreveu que a única dúvida séria é se você deve suicidar-se ou não.

Tom Robbins escreveu que a única dúvida séria é se o tempo tem um início e um fim.

Camus evidentemente levantou-se de mau humor e Robbins deve ter esquecido de dar corda no despertador.

Existe apenas uma dúvida séria. E é:

Quem sabe como conservar um amor?

Responda-me isto e lhe direi se você deve ou não se matar.

Responda-me isto e o tranquilizarei quanto ao início e o fim do tempo.

Responda-me isto e lhe revelarei para que serve a lua.”

[...]

“Quem sabe como evitar que o seu amor vá embora?

1. Diga-lhe que vai até a lojinha de doces na Flatbush Avenue, no Brooklin, pegar um cheesecake e que se ele ficar poderá comer a metade. Ficará.

2. Diga ao seu amor que você quer uma lembrança dele e consiga um anel de seus cabelos. Queime-o num incensário. Desses que se vende em lojas de artigos baratos com símbolos ying/yang dos três lados. Vire para o sudeste. Fale rápido por sobre o cabelo queimando, numa língua convincentemente exótica. Remova as cinzas e com elas pinte um bigode no seu rosto. Procure seu amor. Diga que você é uma outra pessoa. Ele ficará.

3. Acorde o seu amor no meio da noite. Diga que o mundo está pegando fogo. Corra para a janela do quarto e dê uma espiada. Como se não fosse nada, volte para a cama e garanta ao seu amor que está tudo bem. Adormeça. De manhã, seu amor estará lá.”

***

Still life with woodpecker
Tom Robbins
(
1980)

***

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Lundy, Fastnet, Irish Sea...

(no limbo)


 Nada

"Ninguém gosta de nada
Gostaria do fundo do meu coração que não existisse

Mas apenas querer não basta
Vivemos no mundo real, onde nada existe
Não podemos simplesmente desinventá-lo

Nada é incompreensível
Nem você nem eu temos qualquer esperança
de apenas entender o que é e o que faz

É difícil saber se nada é realmente nada
E, portanto, difícil saber se uma política
de fazer nada é bem sucedida

Nada
Por mais eficaz que tenha sido até agora
Dificilmente pode continuar a sê-lo
por tempo indeterminado

Se eu tivesse de escolher
Entre a contínua possibilidade de nada acontecer
E de nada fazer
Eu sem dúvida escolheria o último

Ou o anterior"


***


In Limbo - Radiohead
Álbum: Kid A (2000)


***

"Lundy, Fastnet, Irish Sea
I got a message I can't read
Another message I can't read"

[...]

"You're living in a fantasy world"

"I'm lost at sea
Don't bother me"

***

ah, nem...
e isso foi em outubro de 2000.
anteontem.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

domingo, 27 de outubro de 2024

outubro em Rosshalde

 

“...e agora sentia que estava diante de um bom trabalho, incomum, em que não se tratava de apreender as coisas e retratá-las de forma louvável, mas no qual um instante fora do fluxo indiferente e misterioso da natureza irrompera através da superfície vítrea e o fazia sentir o sopro selvagem e gigante da realidade.”

[...]

“O todo era frio e quase cruelmente triste, mas também plácido e incontestável, e sem nenhum outro simbolismo além do mais simples, sem o qual nenhuma obra de arte pode existir, e que nos permite não só perceber a opressiva incompreensibilidade de toda a natureza, mas amá-la com uma espécie de doce deslumbramento.”

[...]

“Havia tempos tinha aprendido que não se pode entender nem explicar as coisas mais belas e interessantes.”

[...]

“Era sobretudo a distância e o silêncio de um mundo em que seus sofrimentos, tristezas, lutas e privações se tornariam alheios, distantes e pálidos, em que sua alma se livraria de uma centena de pequenos fardos diários e ele seria acolhido por uma nova atmosfera, ainda pura, livre da culpa e da dor.”

[...]

“...o aroma melífluo da fruta madura e nutritiva.”

[...]

“Tinha cheiro de terra úmida e da chegada do outono, e ele, que costumava perceber com os sentidos mais aguçados as características das estações do ano, notou com assombro como esse verão lhe havia escapado quase sem deixar rastro, quase imperceptível.”

[...]

“Respirou fundo o ar úmido e amargo do parque, e a cada passo parecia-lhe que estava se afastando do passado como alguém que já alcançou a margem e empurra um barquinho que se tornou inútil. Não havia nenhuma resignação em sua análise e percepção; cheio de obstinação e paixão intrépida, ele esperava ansioso pela nova vida, que não poderia mais ser um tatear e um errar pela penumbra, mas sim um caminho íngreme e ousado para o alto. Mais tarde e talvez com mais amargura do que os homens costumam ter, ele havia se despedido do doce crepúsculo da juventude. Lá estava ele agora, em plena luz do dia, miserável e atrasado; a partir daquele instante, nunca mais pretendia perder um momento precioso.”

***

sábado, 17 de agosto de 2024

Sábado


 Silvio Santos foi ali.
(Lá, lá, lá, lá, lá, lá.)

Porque hoje é sábado.

E dando os trâmites por findos,

há a perspectiva de um domingo,

porque hoje é

sábado.


***

Titãs - Domingo

***

E antes que eu confunda o sábado com o domingo,
domingo eu quero ver...

***

Até o próximo,
até o próximo,
até o próximo
domingo.

***

Decretamos todos os domingos feriados.
É dia de descanso.
Nem precisava tanto.

sexta-feira, 30 de junho de 2023

querido diário...

 


***

inconveniente
infame
insustentável
inapto
insensato
insólito
incoerente
imoral
insensível
invejoso inveterado
impróprio
infrutífero
imprestável
inábil
insípido
impronunciável
incômodo
indiscreto
impreciso
indelicado
interesseiro
incapaz
insuportável
incorreto
imperdoável
insosso
intolerante
impraticável
internacionalmente indesejável
inanimado
impotente
intoxicante
indefensável
incorrigível
inadequado
insalubre
intragável
indecoroso
intruso
inepto
inaceitável
iníquo
incriminado
inexplicável
inútil
inculto
inseguro
imbecil dos infernos
ininteligível
invasor
indolente
indesculpável
inapropriado
i(n)diota
infeliz
ímpio
incompetente
insano
internável
inseto
ímprobo
império da inverdade
inconstitucional

e agora também na versão

I-N-E-L-E-G-Í-V-E-L.

***

(em breve, disponível também na classe das iniciadas em "EN", começando por "ENcarcerado" e terminando por ENF_RC_D_.)

a Papuda te espera, bandido safado!
(você e seus cúmplices)

sexta-feira, 24 de março de 2023

a nuvem é o deus mais poderoso do céu

 


Gafanhotos são também feras míticas.

***


Gianni Tortoli | 1969 | Etiópia | Nuvem de gafanhotos

***


A Nuvem
Garotas Suecas (feat. Lurdez da Luz)
Álbum: Feras Míticas (2013)

***

"...antigos astros outrora ali, engolidos pela nuvem..."

***

"...eu posso com todo tipo de força que chegar..."

quarta-feira, 22 de março de 2023

dear Steve, since I no longer...

 


***

Caro Steve

Obrigado por me ajudar
a atravessar a rua

O último sujeito que tentou
virou gosma na calçada

Como não preciso mais me explicar
virei pedra no caminho

Como não desejo mais ninguém
não estou mais sozinho

(Leonard Cohen)

domingo, 19 de março de 2023

mais duro que uma bota

 


Sobre o vaqueiro do gelo que sonhava com a primavera e seu cavalo um pouco falso e mais duro que uma bota:

The Cowboy in Winter
(Robert M. Poole, October 2008)

***

Sam Abell | 1984 | Montana - Retrato de um vaqueiro

***

Sim, também é sobre dançar e tomar uma cerveja apenas quando as tarefas terminam.


***


E, oh boy, elas nunca terminam.

sexta-feira, 17 de março de 2023

diamante

 

lapidado.
nobre.
e
bruto.

***


James L. Stanfield | 1974 | África do Sul - Treinamento em mina de diamante

sexta-feira, 10 de março de 2023

please don't slow me down, just stop everything


Ocasionalmente, no meio da sua matinal corrida - tentando o melhor que pode, o mais rápido que pode, o mais cedo que pode - é preciso, diante de um infortúnio, um obstáculo ou uma simples e furtiva distração ou arrependimento parar para tudo.

Mas eu suplico, por favor, não me desacelere se eu estiver indo rápido demais.
É que estamos em uma parte bem peculiar da cidade.

Shhhh...

***


Porque onde a natureza é nobre é justamente onde as raízes são mais amargas.

***

The Strokes - Reptilia

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"I said, please don't slow me down if I'm going too fast
You're in a strange part of our town"

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"I'm not drowning fast enough"

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"The room is on fire as she's fixing her hair


You sound so angry, just calm down, you found me"

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"Yeah, the night's not over, you're not trying hard enough"

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Sim, é também sobre quando você chegou tarde demais para a festa.

terça-feira, 7 de março de 2023

A coreógrafa


"Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família quem não tem?"

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Ciranda da Bailarina
Chico Buarque e Edu Lobo

***

"Procurando bem..."

segunda-feira, 6 de março de 2023

domingo, 5 de março de 2023

sábado, 4 de março de 2023

1ª bailarina


 "Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina"

"Só a bailarina que não tem"

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

mariposa

 


Título da obra:
"Estafermo animalejo detido em catastróficas meditações."

Título alternativo:
"Questão de ótica: não era sol; só ilusão."

Técnica:
Arame galvanizado, cortiça, gema de ovo, motor de carrinho de fricção e deslocamento de retina sobre chapa de vidro canelado.

domingo, 5 de fevereiro de 2023

...fedendo a éter e psicose terminal naquela hora cruel de loucura moedora de rins...



Medo e Delírio em Las Vegas - Hunter S. Thompson

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“Quem faz de si um animal selvagem fica livre da dor de ser um homem.”
(Dr. Johnson)

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“...fedendo a éter e psicose terminal...”

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“Só restava um problema – um gigantesco letreiro de neon bem na nossa janela, bloqueando a vista das montanhas. Milhões de esferas coloridas se acendiam numa sequência bastante complexa, formando símbolos & filigranas estranhos e zumbindo muito alto...

Dá uma olhada ali fora’, pedi ao meu advogado.

Por quê?

Tem uma... máquina enorme no céu... tipo uma serpente elétrica... vindo direto pra cima da gente.

Atira nela’, sugeriu o meu advogado.

Ainda não’, falei. ‘Quero estudar seus hábitos.’”

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“...hora cruel de loucura moedora de rins..”

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“'Joe', nosso motorista, era a favor dessa ideia. Seu nome verdadeiro não era ‘Joe’, mas fomos instruídos a chama-lo assim. Na noite anterior eu tinha conversado com o chefão da Ford, e quando ele citou nosso motorista disse o seguinte: ‘O nome verdadeiro é Steve, mas chamem ele de Joe’.

E por que não’, falei. ‘Chamo do que ele quiser. Que tal ‘Zoom’?’

Não dá’, recusou o cara da Ford. ‘Tem que ser ‘Joe’.

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“...como o bêbado da aldeia num velho romance irlandês...”

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“...sorrisos eternos...”

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“...doze vezes maior que Deus...”

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“...centro nervoso...”

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“Não. Calma. Aprenda a gostar de perder.”

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“Numa sociedade fechada, na qual todos são culpados, o único crime é ser pego. Num mundo de ladrões, o único pecado capital é a burrice.”

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“...mas um colapso está fora de questão; é inaceitável como solução ou mesmo como alternativa mais fácil.”

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“Não tenha compaixão pelo diabo; lembre-se disso.”

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“Desliguei e voltei para o carro. Bem, pensei, é assim que o mundo funciona. Toda energia flui de acordo com os caprichos do Grande Imã.”

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“Nunca aborreça o Grande Ímã.”

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“'Tenho muita fé nos processos naturais', explicou. ‘Mas no seu caso... bem... não encontro precedentes. Será preciso esperar para ver o que acontece, e então trabalhar com o que restar.’”

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“’Cara, eu provaria quase tudo, mas nem fodendo encostaria numa glândula pineal.’”

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“Trata-se claramente de um dos peso-pesados do circuito de vagabundos acadêmicos de segunda linha que recebem entre quinhentos e mil dólares por palestra ministrada a policiais e membros do judiciário.”

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“Ali estava a nata do coração da América... e, Jesus, pareciam uma gangue de suinocultores bêbados!”

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“Se você fica bêbado em público ou se é batedor de carteira, recebe atendimento instantâneo – é empurrado para o estacionamento por capangas vestidos como agentes do Serviço Secreto e recebe um sermão rápido e impessoal sobre o custo de um tratamento odontológico e as dificuldades de tentar ganhar a vida com dois braços quebrados.”

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Adv.: Bem ali, ó. Tacos do Terry, EUA. Seria legal comer tacos. Cinco por um dólar.
Duke: Parece horrível. Prefiro comer num lugar que venda um taco por cinquenta centavos.”

***

Adv.: Deixa eu explicar pra você de um jeito bem simples. A gente tá procurando o Sonho Americano. Falaram pra nós que ele tá aqui por perto... Bem, a gente tá aqui atrás dele, porque nos mandaram vir lá de São Francisco pra fazer isso. Pra encontrar o Sonho. É por isso que nos deram esse Cadillac branco. Acham que assim talvez fique mais fácil de encontrar...”

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“’Lembre-se de que se você tiver qualquer problema basta mandar um telegrama pras Pessoas Certas.’”

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“Quando você vai armar confusão nesta cidade, é bom pegar pesado. Não perca tempo com pequenos delitos e contravenções. Vá direto na jugular. Parta logo para os crimes.”

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“É a mesma bobagem cruel e paradoxalmente benévola que sustentou a Igreja Católica por tantos séculos. É também a ética militar... uma fé cega em alguma ‘autoridade’ superior e mais sábia. O Papa, o General, O Primeiro-Ministro... até chegar a ‘Deus’”.


Ilustrações de Ralph Steadman

***

“Ah, que perda de tempo. Memórias dolorosas e flashbacks horrendos surgindo por entre as brumas do tempo na Stanyan Street... relembrar não faz sentido e não proporciona nenhum conforto para os que restaram. A questão, como sempre, é – e agora...?”

***

“A imprensa é uma gangue de covardes impiedosos. Jornalismo não é uma profissão, não é nem mesmo um ofício. É uma saída barata para vagabundos e desajustados – uma porta falsa que leva à parte dos fundos da vida, um buraquinho imundo e cheio de mijo, fechado com tábuas pelo inspetor de segurança, mas fundo o bastante para comportar um bêbado deitado que fica olhando para a calçada se masturbando como um chipanzé numa jaula de zoológico.”

***

“...Cartão-Desconto Eclesiástico...”

***

“Na noite seguinte, em outro restaurante, O Astronauta estava engolindo seu grude – completamente sóbrio – quando um garoto de catorze anos se aproximou da mesa para pedir um autógrafo. _______ se fez de modesto por um instante, fingindo estar constrangido, e então rabiscou sua assinatura no pedacinho de papel. O garoto olhou para aquilo por um instante e então rasgou em pedacinhos, os quais largou no colo de _______. ‘Nem todo mundo ama você, cara’, ele falou. Deu as costas para _______ e voltou para sua mesa, a uns dois metros de distância.

Os acompanhantes do Astronauta ficaram mudos. Oito ou dez pessoas – esposas, gerentes e engenheiros-chefes que mostravam as atrações de Aspen para _______. Pela cara deles, parecia que alguém tinha usado spray de merda na mesa. Ninguém deu um pio. Comeram bem rápido e foram embora sem dar gorjeta.”

E chega de Aspen e astronautas. ________ nunca teria esse tipo de problema em Las Vegas.

Basta um pouco desta cidade para empanturrar qualquer um. Depois de cinco dias em Vegas, parece que você está há cinco anos aqui. Tem gente que gosta – mas também existe quem goste de Nixon. Ele teria sido o Prefeito ideal para esta cidade; com John Mitchell como Xerife e Agnew como Secretário de Saneamento.”

***


Mr. Tambourine Man - Bob Dylan