sábado, 23 de maio de 2015

Os devaneios do caminhante solitário


Como sei que muitos não têm tempo de chegar ao fim de um texto extenso como este, já facilito de cara e começo logo pela moral da história, que é a seguinte:
"Vâmo-bora herborizar com um pouco mais de afinco?!"

***

Todo solitário fica propenso ao devaneio, mas poucos sabem devanear com maestria.
Nem todo solitário herboriza. Herborizar não faz ninguém "viral". 


***

O Jean-Jacques já não era nenhum jovenzinho quando me escreveu estas coisas e, mesmo assim, embora tenha me feito aborrecido em alguns momentos, foi capaz de estar muito além de qualquer expectativa.

Como marquei quase todo o livro, registro só o que foi sorteado. De sorte, o que mais me interessa, claro, que neste mundo de bocejo, o interessante é sorte.

***

Sobre ser "viral" e/ou "aprender Webstandards com HTML5", o velho Jean-Jacques diz o seguinte:



“Muitos apenas queriam escrever um livro, qualquer um, contanto que este fosse bem recebido. Quando o livro estivesse pronto e publicado seu conteúdo não lhes interessava mais em nada, a não ser para fazê-lo ser adotado pelos outros e para defendê-lo em caso de ataque, mas de resto sem nada retirar-lhe para seu próprio uso, sem nem se preocupar se seu conteúdo fosse falso ou verdadeiro, conquanto não fosse refutado. Quanto a mim, quando desejei aprender foi para eu mesmo saber e não para ensinar; sempre acreditei que antes de instruir os outros era preciso começar sabendo o suficiente para si mesmo, e de todos os estudos que fiz em minha vida em meio aos homens não há quase nenhum que também não tivesse feito sozinho em uma ilha deserta onde estivesse confinado pelo resto dos meus dias.”

***

Sobre “a-felicidade-do-pobre-parece-a-grande-ilusão-do-carnaval”, ele diz assim:



“A felicidade é um estado permanente que não parece feito para o homem neste mundo. Tudo na terra está em um fluxo contínuo que não permite a nada assumir uma forma constante. Tudo muda a nossa volta. Nós mesmos mudamos, e ninguém pode garantir que amará amanhã aquilo que ama hoje. Assim, todos os nossos projetos de felicidade nessa vida são ilusões. Aproveitemos o contentamento do espírito quando este ocorre; evitemos afastá-lo por erro nosso, mas não façamos projetos para acorrentá-lo, pois tais projetos são puras tolices. Vi poucos homens felizes, talvez nenhum, mas muitas vezes vi corações contentes, e de todos os objetos que me marcaram este é o que por minha vez mais me contentou. Creio que se trata de uma decorrência natural do poder das sensações sobre meus sentimentos internos. A felicidade não apresenta sinais externos; para conhecê-la, seria preciso ler o coração do homem feliz; porém, o contentamento pode ser lido nos olhos, na postura, no tom, no andar, e parece ser comunicado àquele que o percebe. Haverá prazer mais doce que ver um povo inteiro se entregar à alegria em dias de festa e todos os corações se iluminarem aos raios expansivos do prazer que passa de maneira rápida, mas intensa, pelas nuvens da vida?”

***

E por fim, sobre ser um ficcionista, nos diz:



“[...] mentir é esconder uma verdade que devemos revelar. Decorre desta definição que calar uma verdade que não somos obrigados a dizer não é mentir.”

“Mentir sem proveito ou prejuízo para si ou para outrem não é mentir:
não é mentira, é ficção.

“Decorre de todas essas reflexões que a declaração de veracidade que fiz a mim mesmo se baseia mais em sentimentos de retidão e equidade do que na realidade das coisas, e que na prática segui mais os comandos morais de minha consciência do que as noções abstratas de verdadeiro e falso.”

***

BONUS TRACKS:

Sobre “a-felicidade-do-pobre-parece-a-grande-ilusão-do-carnaval”, tem esses mestres faixa-preta aqui que também souberam capturar o espírito:


(A Felicidade - O Jobim fez a música, o Vininha fez a poesia e o Tom Zé captou a mensagem)

"...em busca da madrugada, falem baixo por favor..."

***

Enfim, como prometido nas primeiras linhas, a moral da história:

Vâmo herborizar com um pouco mais mais afinco?!

 (Os devaneios do caminhante solitário - Jean-Jacques Rousseau)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente aqui!