segunda-feira, 13 de julho de 2015

Os Cavacos da Saudade (Parte Um)

“pra nós, caro,
que somos da linha de artistas que curtem na cortiça mais tosca o sofrimento.”

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Foi seguido por essa frase rude de tão generosa que o presente maravilhoso entrou de sola na minha caixa de correio:
Após os agradecimentos embargados, o diálogo que se seguiu foi mais ou menos o seguinte:

“- Linda! Linda demais!
- Tô ouvindo o dia inteiro. Há seis meses.
- Ouvirei ainda muitas vezes. Comprarei um cavaquinho. Só me diga qual.
- Não sei ainda. Vou comprar um também. Vamos fazer uma orquestra de cavacos: ‘Os Cavacos da Saudade’. Amanhã te digo.”

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Claro que o “amanhã te digo” era o que de mais líquido e certo havia em meio àquelas palavras. Mas o fato é que, por incrível que pareça, acabou sendo mesmo em um amanhã qualquer desses de bosta, que surgiram, onipatéticos, ‘Os Cavacos da Saudade’.

De todas as empreitadas fadadas ao fracasso que já abracei cegamente em minha vida, e já foram mais do que algumas, vocês sabem, essa foi aquela pela qual brotou o sentimento mais puro que um canalha completo pode ser capaz de experimentar. Essa vontade delinquentemente juvenil de chutar tudo e sair por aí a se foder em grande estilo.

A história da música nos diz que esta pequena orquestra de dois cavacos teve uma carreira meteórica entre os anos de mil novecentos e noventa e ontem e mil novecentos e noventa e hoje.

O amanhã mesmo, que é bom, ah, esse ficou só na saudade...

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"Segura o choro, criança..."

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"Quando o poeta se encontra sozinho num canto qualquer do seu mundo..."

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Enfim, agradecido pelo presente simples e desinteressado que fez com que um dia dos infernos de 7º subsolo soasse apenas como um dia dos infernos de 4º subsolo.

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