domingo, 30 de setembro de 2018

Ciência pura!


É público e notório que por aqui ninguém é dado a misticismos. Não mesmo. A não ser que o misticismo em questão seja de ordem puramente científica. E é claro que se, dentre todo o imenso catálogo disponível a um palmo de distância do seu nariz, você escolhe assistir justamente a história do sujeito que tornou possível a corrente alternada e, nesse muito curto espaço de tempo de três mil segundinhos, a energia acaba – duas vezes! – então é claro que isso quer dizer algo.

Veja, não é mística e nem coincidência. Isso é ciência pura.

Mas, se é pra misturar mística com ciência, então o seu cara talvez seja mesmo o Tesla.

E uma semana depois, não é que eu estava revendo umas partes do filme, pra tomar umas notas, fazer uns rabiscos... e bum! ciência pura: a energia acabou novamente. (Não durante o filme, que seria falta de originalidade, mas uns poucos milhares de segundinhos depois, garanto.)

O pitoresco é que eu nem me lembrava quando, antes disso, a energia acabou por aqui. Nem sabia que isso ainda acontecia, pra dizer a verdade. Ou seja, é coisa, no mínimo, bem rara.

E é nesse ponto que, se você é tão cético quanto eu e só acredita mesmo é na matemática, então como dois e dois são quatro você há de convir comigo que o Tesla só podia estar de peraltices, certo?!

Tesla peralta

O grande Tesla, que chutou o rabo gordinho da corrente contínua beiçudinha do Edson, o grande Tesla, que nasceu no meio da tempestade, filho da luz, poeta da ciência, apóstolo das forças da natureza, à qual tão incansavelmente admirou e reverenciou, o grande Tesla, amigo do Marquinho ali da esquina - qual Marquinho? o Twain! -, o grande Tesla, ficcionista científico ou cientista do realismo fantástico, como queira, o grande Tesla fotógrafo de pensamentos, amigo/enamorado de pombos do Bryant Park – sempre mais limpos que humanos! – o grande Tesla, que fez o Bowie usar um bigode, o grande Tesla do raio da morte que recebeu mensagens em código morse de Marte, o grande Tesla que morreu falido e esquecido no 33º andar do Hotel New Yorker, no quarto 3327, onde tudo era muito divisível por três...

...o grande Tesla, artista-eletricista-cientista-poeta:


 “Ele era um artista. Ele trabalhava com seus sonhos. Trabalhava com suas visões. Seu meio não era o barro. Seu meio não era a tinta. Seu meio era a eletricidade.”

É que ele não se amarrava a dinheiro não, mas aos mistérios, como já bem disse um outro grande cientista.

Fica aí a homenagem e o agradecimento a esse grande sujeito, que nem se deu ao trabalho de descobrir o rádio porque já estava pensando era no wireless. (Êh, Marconi, perigo, hein?!, usurpador de patentes, você precisa ser preso também, safado!)

Grande Tesla!
Tesla com seu instrumento musical, tocando uma música cheia de melodia e elétrons...

***

E, só porque o “paralelo” é interessante, vou roubar um pedaço do estudo científico do John dos Passos aqui, rapidinho.

De um lado do ringue, pesando mais de oitenta anos, o Tesla morre falido e esquecido. Do outro lado, com não menos que oitenta anos de tentativa-e-erro, o Edson morre ainda escravo:

“Edson preocupava-se com uma coisa a que chamava de força elétrica; quebrou a cabeça um bocado com ela, mas foi Marconi quem faturou as ondas hertzianas. O rádio ia despedaçar o antigo universo. O rádio ia matar o velho Deus euclidiano, mas Edson jamais foi homem de se preocupar com conceitos filosóficos;
Trabalhava noite e dia mexendo com rodas dentadas e pedaços de fio de cobre e produtos químicos em vidros; sempre que pensava num aparelho, experimentava-o. Fazia as coisas funcionarem. Não era um matemático. Posso contratar matemáticos, mas os matemáticos não podem me contratar, dizia.

[...]

Thomas A. Edson aos oitenta e dois anos trabalhava dezesseis horas por dia;
Nunca se preocupou com matemática ou o sistema social ou conceitos filosóficos generalizados;
Em colaboração com Henry Ford e Harvey Firestone, que nunca se preocuparam com matemática ou o sistema social ou conceitos generalizados;
Trabalhava dezesseis horas por dia tentando descobrir um substituto para a borracha; sempre que lia sobre alguma coisa experimentava-a; sempre que tinha um palpite, ia para o laboratório e experimentava-o.” 

(John dos Passos – Paralelo 42)

***

E pra fechar, claro, tem que ter uma trilhazinha sonora, porque senão ninguém aguenta tanta conversa fiada.

O meio do documentarista é o documentário, já o do músico, pode ser o documentário também, se ele quiser. Fica essa versão curta da história do Teslinha, que o pessoal da Handsome Family escreveu, dirigiu, produziu e interpretou com muita beleza e puro sentimento. Ou você gasta 50 minutos no filme ou 5 na canção (se a energia não acabar, claro). Dois estilos diferentes de registrar a mesma história:

Música: Tesla's Hotel Room
Banda: The Handsome Family
Disco: Last days of wonder

Disco foda!

***

Pois é, e fechando o raciocínio do início, é como disse a canção,
"...when spirits still flew..."

Tesla peralta.
Ciência pura!

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