terça-feira, 2 de março de 2021

Música Salva! (42) - 1993 a 2021 e rápido como um clique


“Like the legend of the Phoenix
All ends with beginnings” 

Pois é, esses carinhas sempre tiveram disso de ir meio que contra o esperado. Agora que os robôs estão cada vez mais em alta - inteligência artificial, tecnologias disruptivas, internet das coisas, carros autônomos, algoritmos influenciando eleições -, sei lá, provavelmente o lance (badass!) das personas mecatrônicas perdeu a graça pra eles. Talvez considerassem legal ser robô-esperto em um mundo de humanos-bôbôs, mas, ser robô-esperto em mundo de super-robôs e humanos-miseravelmente-bôbôs... 

...qual seria a vantagem disso? 

“So let's raise the bar
And our cups to the stars” 

Mas essa é só uma teoria. Com toda certeza existem várias. Como, por exemplo, a de que eles pressentiram uma nova e necessária onda ludista em que uma horda monumental de pessoas que perderam seus empregos para a pandemia e as “maravilhas” tecnológicas listadas no primeiro parágrafo desse texto se revoltariam novamente contra as máquinas, descendo o porrete nessa porcariada toda. Como robôs-espertos que são, preferiram apertar o botão da autodestruição, saída essa um pouco mais prática e digna, evitando se tornarem vítimas de todo esse derramamento de silício. Mas essa é uma hipótese que tem dois – ao menos - pontos fracos. O primeiro é que, para essa população se revoltar contra algo, seria necessário desgrudar todas essas carinhas apáticas das telas de seja lá quais tipos de dispositivos inventados ontem elas estejam acompanhando frenética e fake-newsmente. A segunda é que descer porrete em qualquer máquina atual seria bem mais difícil e frustrante do que na época do fictício e crossdesser Ned Ludd, já que hoje “tá tudo na nuvem”. 

“We've come too far
To give up who we are” 

Também tem a possibilidade cinzenta-metálica do desgaste natural das relações. Toda relação tem um prazo de validade: fato. Porém, nos últimos nefastos e sinistros tempos (mais ou menos da metade da década anterior pra cá) acho que vivemos todos o processo de aceleração do envelhecimento de várias dessas relações que, por falta de criatividade ou de charme ou de coisa melhor, preguiçosamente mantínhamos. Mas nesse período, levanta a mãozinha quem aí não perdeu ou deixou de valorizar em alguma medida a companhia de conhecidos, colegas, amigos, parentes? É, acho que coincide com esse período em que muita gente se revelou for reals, my dude. E eu quis dizer "FOR REALS, Yooooooo!" mesmo! E aí você se pegou meio que tipo: “- What a fuck?! Esse son of a bitch pensa isso mesmo? Sou amigo do cara há mil anos e só agora ele me vem com essa?” Muita gente que levaria anos, talvez décadas, pra sair dos arbustos da insanidade, ganhou coragem com a rápida e enganosa transformação da estupidez em virtude, acelerando demais o azedamento do caldo que, em condições normais, talvez tivesse durado até uma vida inteira pra adquirir esse aspecto rançoso. Veja que, talvez não por coincidência, foi justamente quando já não suportávamos mais olharmos nas caras uns dos outros que veio a obrigação de usarmos máscaras. Lôco, né!? Algumas máscaras caíram e foram substituídas por outras. Pro Daft Punk, acho que isso nunca foi problema, porque, espertos como são, eles já tinham até previsto essa onda há tempos e, ao invés de simples mascareirinhas de pano com estampas e mensagens maneiras, eles vestiram logo a carapuça capacetuda robótica toda, que era pra blindar com força total a parada. Pode ser que, mesmo com esse artifício tão a frente de seu tempo, a relação não tenha sobrevivido, porque o prazo de validade mencionado talvez não respeite nem mesmo os componentes eletrônicos.

E assim, quem sabe, as coisas acabem mesmo, inevitavelmente, caminhando para se tornarem apenas memórias de acesso aleatório dentro de um gabinete empoeirado.

Tenho outras teorias aqui, tão implausíveis quanto as anteriores, mas, antes que o texto fique ainda mais longo, acho que vou colocar minhas apostas logo na mais simples: que eles estão mais uma vez sacaneando e rindo às custas da mídia e dos fãs. Sinto que esse pode ter sido uma espécie de comportamento-padrão-meio-Andy-Kaufmaniano que eles demonstraram em algumas ocasiões desde 1993. Enquanto isso, o acesso aos discos aumenta disruptivamente nos streamings em geral (não que eles precisem disso, claro). 

Mas, na eventualidade desse término ser real - o que também seria uma boa piada com a mídia e seguidores - vou só registrar mais uma bobagem aqui. Principalmente porque eu tenho muito apreço por esse disco de 2013 que rodou muito chão comigo e consequentemente me salvou. Na verdade, esse foi um ano extremamente rotativo pra mim e eles estavam ali no mp3 direto, muita paisagem passando na janela e um futuro bem incerto milhas a frente. E também me acompanharam nas pistas, claro, tanto nas de corrida quanto nas de dança (eh, robô por robô, eu também danço muito, mané!). Mas isso só quando minhas engrenagens enferrujadas e pouco avançadas, mecatronicamente falando, não me levavam a inevitáveis contusões e estiramentos - tanto dançando, quanto correndo.

Mas sempre lá, up all night to get lucky

Há umas semanas lembrei desse disco e que isso tinha sido há tanto tempo. Fiquei esperançoso, pensando que em breve eles deviam aparecer com algum material novo. E apareceram mesmo, com um suspeito, misterioso e evasivo adeus do tamanho de uma placa-mãe-gigantona. Do tipo: “Nem precisamos nos dar ao trabalho de dar uma satisfação pra ninguém, porque nunca demos!” 

E não precisar dar satisfação pra ninguém é libertador.
Aprecio demais essa capacidade nos robôs em geral.
 

Bom, enfim, acho que tá bom por hoje. 

Então, na torcida pra que seja mais uma piada, deixo essa musiquinha que (inesperado!) nem é do disco que mencionei acima, mas que é também uma bela memória de acesso aleatório, que eu vinha escutando muito e rotativamente nesses últimos tempos.

Daft Punk - Veridis Quo 

Veridis Quo
Veri disQuo
Very Disco!

E teorias a parte, a questão que fica é: 
e agora, quo vadis, cacildis?

***


***

E do RAM eu viajava demais nessa aqui:

Daft Punk - Giorgio by Moroder

***

"When I was fifteen, sixteen when I really started to play the guitar
I definitely wanted to become a musician
It was almost impossible because the dream was so big
I didn't see any chance because I was living in a little town"

[...]

"You want to free your mind about a concept of harmony and of music being correct
You can do whatever you want
So nobody told me what to do
And there was no preconception of what to do"

***

Ouvindo novamente, rolou até uma lágrima high-tech de alta fidelidade aqui.

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